Em março de 2016, a prefeitura do Rio de Janeiro promoveu uma ampla alteração nas linhas de ônibus da Zona Sul. Os ajustes ocorreram em meio a outras adaptações no sistema de mobilidade da cidade.
Algumas linhas da Zona Sul foram extintas, muitas mudaram. Outras só trocaram de nome. Houve as que modificaram número e trajeto.
O comunicado se deu principalmente por meio de cartazes como este, que segue colado no ponto de ônibus mais próximo da minha casa:
Na primeira vez que vi o cartaz, parei diante dele. Fiquei uns bons minutos tentando ler e entender.
O título “Racionalização Zona Sul”, irônico até a medula, faz Descartes girar na tumba.
Ri, fiquei indignada, com raiva, me senti tratada como imbecil, tive vontade de chorar. Mas esses seriam os desdobramentos mais leves. O pior veio depois, no dia-a-dia.
Passado mais de um ano, eu e milhares de usuários ainda estamos tentando assimilar as mudanças. Pegamos ônibus errados, perdemos tempo, dinheiro e paciência.
Racionalização Zona Sul, o título do cartaz que fez Descartes girar na tumba
Demorou para decifrar as tais linhas Troncal e Integrada, uma das grandes mudanças do sistema. Por motivos que fogem à razão, elas estavam na última posição do cartaz, com o menor tamanho de letra. Descartes em convulsão.
Houve vários protestos, mas a prefeitura não reconsiderou as alterações e nem providenciou melhores materiais de comunicação. Os mesmos posters seguem lá, confundindo os usuários.
Quando a cultura da linguagem clara estiver difundida no Brasil e houver consenso em torno dos benefícios sociais que ela traz, condutas absurdas como esta serão mais raras.
O direito de entender é uma questão de cidadania, especialmente em uma sociedade pouco alfabetizada como a nossa.
Quero colaborar para esta construção cidadã e, para isso, mudei meu rumo. Após muito tempo de atividade na música clássica – onde aprendi a facilitar compreensão e traduzir jargão, sem perder a profundidade –, chegou a vez de difundir, pesquisar e praticar a comunicação clara em variados campos.
O blog é o marco zero do novo percurso. Que venham aí clareza, entendimento, ação e mudança.