A jornalista científica carioca Lúcia Beatriz Torres é o que chamamos aqui no COM CLAREZA de uma “agente da linguagem clara”.
Explicando: o desafio profissional de Lúcia é aumentar o acesso à produção científica brasileira.
Ela traduz achados de pesquisa para uma linguagem comum e incentiva pesquisadores a escreverem de forma acessível.
Lúcia trabalha em prol da clareza desde 2005.
Mas só em outubro de 2017 teve o primeiro contato com o Movimento Pela Linguagem Clara, quando assistiu a uma palestra que eu dei no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Naquela ocasião, conheceu o movimento social que luta pela mesma causa que a mobiliza. E passou a adotar as técnicas de comunicação consagradas internacionalmente.
A jornalista enxerga a importância da escrita com clareza nas Ciências sob duas perspectivas.
Uma é ligada diretamente à população, que deve ter acesso fácil às pesquisas científicas desenvolvidos em universidades brasileiras. “Todos devem conseguir entender os resultados das pesquisas, sem importar o nível de instrução do leitor”, acredita.
A outra perspectiva diz respeito à burocracia que atrapalha os pesquisadores. “Eles perdem muito tempo enfrentando burocracias mergulhadas em um ‘juridiquês’ incompreensível e em linguagem muitas vezes ambígua”, aponta.
“Muitos pesquisadores que usam recursos públicos para desenvolver projetos acabam abandonando a bancada por serem obrigados a dedicar seu precioso tempo para tentar entender normas jurídicas atreladas ao uso dos recursos”, diz Lúcia. “Isso faz atrasar ainda mais o desenvolvimento científico e tecnológico do país”, completa.
Na esfera pessoal, a jornalista defende que a linguagem clara ajuda a compreender o mundo. “Quando leio algo e não consigo entender, ou tenho dúvida ao assinar um documento, sempre penso na dificuldade de pessoas com menos estudo.”
A relação de Lúcia Beatriz Torres com o jornalismo científico começou no curso de Comunicação Social na UFRJ, quando colaborou com um projeto de popularização das ciências farmacêuticas.
Lá, percebeu a relevância do acesso à informação científica de qualidade, sem conflitos de interesse e escrita em linguagem acessível.
Decidiu se aprofundar no tema. Fez pós-graduação em Jornalismo Científico na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2013, fundou a Serendipity Comunicação para colaborar com cientistas, empresas e instituições, divulgando pesquisas em linguagem acessível.
“Espero que, em um futuro próximo, precisemos cada vez menos de ‘tradução’ para linguagem acessível. Redigir com clareza deve ser encarado como uma obrigação de quem escreve”, conclui a jornalista, que mora no Rio de Janeiro.