A linguagem opaca é algo que muito me intriga e mobiliza. Ela é um fato social que atravessa o tempo, os territórios e os idiomas.
Mas, no Brasil, penso haver um ingrediente local.
É o que venho chamando de “Projeto Brasileiro de Desinformação”.
Esse rótulo tem um certo ar de teoria da conspiração, eu sei.
Mas foi o jeito que encontrei para tentar identificar o porquê de tantas organizações públicas e privadas emperrarem a livre circulação de informações relevantes para o nosso cotidiano, muitas vezes sem se darem conta disso.
Seja por omissão da informação (tipo não haver relógio nas plataformas do Metrô Rio) ou por amordaçar a informação (tipo escrevendo de um jeito que nem Phd em linguística entende), há uma constante que se repete.
Acredito que o Projeto Brasileiro de Desinformação tenha raízes profundas no solo do mutismo.
A gente precisa lembrar que a população do Brasil ficou séculos muda por ordens de Portugal. E depois que se libertou não fez muito para reverter o processo histórico do calar.
Lá no comecinho da nossa história as capitanias hereditárias já eram proibidas de se comunicar entre si. Toda comunicação tinha que ser intermediada pela metrópole.
Só em 1808 caiu a proibição de haver universidades no Brasil.
A violência normalizada, tão característica da escravidão, não foi exatamente um estimulante da boa comunicação.
E já passados 131 anos da abolição, a violência normalizada permanece entre nós.
O mais sensato mesmo era e continua sendo ficar quieta para evitar punição. A vida já é muito complicada, melhor não arrumar mais problema.
Além desse mutismo tão característico da nossa gente, há também uma certa surdez.
A newsletter da Vox hoje tem o título “O alarme que nunca soou no Brasil ” (The alarm that never sounded in Brazil) .
O texto é sobre o rompimento da barragem em Brumadinho e as 8 sirenes de advertência que não foram acionadas pela Vale.
O episódio concreto das sirenes não acionadas carrega uma tristeza profunda e alguns sentidos figurados. Entre eles, o dos alarmes que nunca tocam e, se tocassem, talvez não conseguíssemos ouvir.
No Brasil, tendemos a assumir a postura de não falar e de não ouvir.
É nesse solo tão tóxico que cresce e floresce a comunicação das coisas de interesse público.
A meu ver, qualquer processo de implementação de linguagem simples precisa provocar a reflexão sobre tal contexto de mutismo e surdez sócio-comportamental.
Não adianta apenas entregar um conjunto de regras novas e mostrar como se usa a técnica.
É a disposição mental que precisa mudar.
Afinal de contas, a escrita é uma expressão do nosso discurso mental interior (aqui eu me apoio na perspectiva de discurso interior de Vygotsky).
Estou construindo um método de escrita em linguagem simples que leva isso em consideração.
A minha Pedagogia da Simplicidade também aborda outros elementos que, penso eu, engrossam o sopão da linguagem opaca.
Pretendo oferecer em fevereiro uma oficina para “testar” o método.
Será no Rio. Aviso aqui quando local e data estiverem definidos.