Hoje estreamos a seção “Agentes da Linguagem Clara”.
Será uma série de perfis e entrevistas com brasileiros que, de alguma forma, aplicam a linguagem clara em suas vidas. Aos poucos, o trabalho dessas pessoas ajuda a estabelecer e fortalecer o método no país.
Para começar, conversamos com a advogada Carla Marchandeau. Ela atua em Belo Horizonte, Minas Gerais, no escritório Azevedo Branco Advogados Associados.
No dia-a-dia, ela usa a linguagem clara para se comunicar com os clientes. Carla escreve contratos, e-mails e cartas propostas seguindo as diretrizes da clareza.
Além da esfera de trabalho, a advogada também dedica algumas horas para estudar o movimento mundial pela linguagem clara.
Ao pesquisar sobre o futuro da advocacia, no começo desse ano, ela encontrou o “design thinking” e “legal thinking” – termos em inglês que ainda não têm tradução oficial.
O “design thinking”, cuja tradução literal seria “pensamento de design”, é uma metodologia para abordar problemas e encontrar soluções de maneira mais prática. Tal método usa a empatia e a criatividade para solucionar questões.
Já o “legal thinking”, cuja tradução seria “pensamento jurídico”, é a aplicação do termo anterior ao mundo do Direito. Trata-se, entre outras coisas, de colocar o ser humano no foco das relações jurídicas.
Desde que conheceu essas abordagens, Carla se apaixonou e se tornou uma estudiosa. Foi assim que entrou em contato com os estudos da “plain language”, a linguagem clara.
Em uma viagem ao Canadá, há poucos meses, ela conheceu o projeto En Clair, de língua francesa, que atua no país. Depois, descobriu a nossa iniciativa, do Com Clareza, no Brasil.
O contato com a linguagem clara é recente, mas a identificação é grande. Ao ser perguntada sobre a importância do tema, Carla é assertiva: um documento só é bom se for completamente entendido pelo leitor.
Este conceito deveria ser aplicado especialmente aos documentos públicos, que todos precisamos compreender no dia-a-dia para nos governarmos e vivermos as nossas vidas.
Carla crê que os cidadãos acabam sendo desfavorecidos e oprimidos quando as informações são mal compreendidas.
A advogada lembra que a informação clara é um direito de todos, de acordo com a Lei de Acesso à Informação. A linguagem simples e direta poupa tempo, esforço e dinheiro do governo, do setor privado e de cidadãos comuns.
No campo do Direito, ela vê a linguagem como principal ferramenta de trabalho. Por isso, acredita ser “urgente” uma reforma na comunicação entre os profissionais e os clientes.
Para ela, este é o futuro da profissão. Quem não se atualizar conforme as novas tendências vai acabar ficando para trás.
No entanto, por ser uma profissão tradicional e conservadora, poderá haver certa resistência. Para Carla, o uso do “juridiquês” faz parte da advocacia desde sempre.
Por isso, a mudança será ainda mais desafiadora.
Será preciso abandonar a ideia de que a competência do profissional está diretamente ligada à forma polida e complicada com que se comunica.
A advogada destaca que não há a necessidade de abandonar completamente os termos técnicos para ser compreendido. Para ela, algumas expressões do Direito não podem ser substituídas.
O ideal, segundo Carla, é que os documentos sejam predominantemente escritos em linguagem clara com algumas expressões técnicas próprias do Direito.
Dessa forma, ela acredita que o mundo jurídico sentiria alguns impactos positivos.
O público leigo teria acesso à Justiça com mais facilidade. Haveria uma economia de tempo em negociações. E, os próprios advogados conseguiriam se entender mais facilmente.
Carla Marchandeau é uma profissional que coloca em prática a linguagem clara e beneficia pessoas diariamente. Nós a consideramos uma parceira de missão.
Vamos juntos, Carla!